O episódio de racismo ocorrido dias atrás em um condomínio de alto padrão em Goiânia evidencia e traz importantes reflexões sobre duas formas completamente diferentes de agir quando nossa vulnerabilidade se põe à mostra. Vulnerabilidade esta que todos temos, e que, portanto, deve nos aproximar enquanto seres humanos, e não nos afastar.
No episódio, o morador, que estava sem o controle remoto para entrar no condomínio, foi solicitado pela funcionária para que se identificasse para que ela pudesse, então, liberar sua entrada. Procedimento padrão e absolutamente correto, que deve ser aplicado a qualquer pessoa, visando a segurança de todos os condôminos.
O morador, talvez por se sentir exposto, desrespeitado ou, até mesmo, ferido em seus direitos enquanto morador, reagiu de forma extremamente agressiva e desrespeitosa. A funcionária gravou alguns trechos da agressão, durante os quais demonstrou calma, agindo com cordialidade e profissionalismo, mesmo sendo ofendida e ameaçada de forma incessante. A atitude do morador caracteriza crime de injúria racial, pelo qual ele terá de responder, uma vez que a ofendeu referindo-se à sua origem racial e classe social e não à sua conduta profissional. Mesmo que este tivesse sido o foco, claramente esta não é a forma de se conduzir uma situação com a qual não se está de acordo.
Quando pensamos nos Direitos Humanos, estes são universais e protegem a dignidade de todos os seres humanos regendo o modo como vivemos, individualmente e em sociedade. São princípios básicos inerentes à dignidade de toda pessoa, não havendo um direito "menor" e não existindo, portanto, hierarquia de direitos humanos, nem discriminação de qualquer tipo, como raça, gênero, idade, religião, nacionalidade ou condição social.
Não sendo o ponto central da reflexão aqui proposta, mas sendo algo muito importante a ser lembrado, tratava-se de um homem ameaçando uma mulher, o que nos leva a reflexões relacionadas à violência contra a mulher decorrente da cultura do machismo na qual fomos criados e temos aprendido a transformar e evitar que se perpetue da mesma forma que já não cabe considerando a evolução sócio-político-econômica e cultural do mundo.
Independentemente deste ponto e considerando todos os temas englobados nas discussões sobre Diversidade e Inclusão, o contexto principal que deve ser levado em consideração é o respeito. Sempre e acima de tudo. Respeito que deve estar presente primordialmente em qualquer relação ou situação e que, em tantos momentos, parece ter se perdido. O direito de expressão, muitas vezes, parece se confundir com o direito de desrespeitar o próximo, atacá-lo, humilhá-lo para convencê-lo de que seu ponto de vista é errôneo. Todas as pessoas são diferentes, com criações, opiniões e pontos de vista diversos, cada uma com suas fragilidades e fortalezas e é somente por meio dessa compreensão que se torna possível o exercício da empatia e a abertura a um diálogo saudável, no qual cada pessoa esteja aberta a expor seus pontos, ser ouvida, compreendida e também compreender o outro, tornando possível haver um campo positivo e fértil, no qual ambas saiam diferentes da forma como entraram. Podem manter ou modificar sua opinião, isso não é o que importa, mas, sim, a consciência de que seu ponto de vista não é e nem nunca será o único e o absolutamente correto e que todos devem ser, no mínimo, respeitados. Essa é a riqueza da diversidade, representada na individualidade de cada pessoa, que deve ser valorizada de forma genuína para que possamos ter um mundo mais inclusivo, mais harmônico, mais humano.
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